sábado, 13 de junho de 2020

CRÔNICA- TENTAÇÃO NO JARDIM DO PARAÍSO

Tentação no Jardim do Paraíso

         A mãe quem impôs, ela que era a filha aceitou. Sem experiência, não conhecia muito. Era uma bobinha e de homem não sabia mais do que uma porta. Mas a mãe experiente, já conhecia bastante a vida para poder escolher pela filha. Casamento não era estado de graça e o que se ganhava com ele era a sorte de não passar fome.

          Para os filhos estava escrito – honrarás pai e mãe. O pai estava muito morto, mas a mãe tinha muito poder e sabia de tudo. Escolheu então marido para a filha. Não fosse Rutinha sucumbir às promessas do primeiro gigolô. Brincar de boneca todo mundo brinca, mas num lar não tem só a cama. E a barriga e o recheio da vida?

         Cláudio era o varão. Cinquenta anos. Separado de papel passado. A mulher uma megera. Os filhos contra ele. Vinte e um anos de vida perdidos. Agora o tempo recuperado. Rutinha o anjo do paraíso. Não adivinhou logo como lhe coubera o prêmio. Vinde a mim as criancinhas. Gosto de sangue no dentinho canino. A mãe do Claudinho que avisou:

         __Você não devia. Muito nova meu filho, pra você só uma rainha do lar.

         __Mereço minha mãe, depois da cascavel. Vinte e um anos nos braços da surucucu quem não cede ao anjo?

         Casou no sábado. A lua-de-mel num hotel da serra. Segunda-feira de volta. Sem ele a loja não prosperava. Olho do dono engorda o gado. Instalados na casa da sogra. Que esta não se separava da filha. Único esteio na sua velhice. O varão não contestou, para sempre grato a Dona Nadir. Seu único anjinho para ele.

         Rute era feliz? Dona Nadir sabia que só podia ser assim. Feliz? Feliz? Feliz? Ela que casara contra o pai e contra a mãe é que não fora nunca. Jairo um bêbado. Batia-lhe na cara, fazia-lhe sangue. Tanto quis se matar. Mas decidiu que melhor Jairo morresse. Ele que deveria não ela que cuidava da filha e se matava no tanque. O Caboclo que influiu, recebeu sua oferenda e Jairo atravessado pela locomotiva. Resgatada do purgatório pelo arcanjo redentor. Rutinha que não repetirá seu erro. Cláudio próspero atacadista. Velhinho para a filha? Não isto. Idade certa não existe. Ninguém planta a felicidade, espera que o fruto se ofereça. Se não fosse sua filha, Cláudio iludido por uma qualquer. Ela conhecia o tipo. Doido pra ter mulherzinha. Dona Nadir continuaria seu ofício. A casa dos dois. Não se importassem com ela. Ali para servi-los.

         Uma semana depois Rute avisou:

         __Cláudio incapaz minha mãe, o que eu faço meu casamento uma farsa.

         __Conheço reza, conheço Caboclo que pode operar nele.

         Cura nenhuma. Cláudio fracassava. Com o tempo algumas vezes ele vinha. Fazia serviço de porco e largava o anjo insatisfeito. No banho ela se aliviava. Que felicidade era aquela? A mãe quem instruía:

         __Você que reclama Rutinha, dê graças a Deus que se marido.

         __Mas casamento é só isso?

         __Que não é eu sei. Compreenda seu maridinho, tanto tempo nos braços da louca, emperrou.

         __O que é que eu faço agora?

         __Viva em paz. A mulher finge que é feliz e o homem nunca sabe de nada.

         Passou a viver em paz. Mas o marido? Cláudio fedia a velho. Era murcho. Respirava pela boca. Tinha dentes amarelos. Comia com a boca cheia. Despia-se na frente dela. Ai como viera até ali? Se lambuzava todo e ela tinha que se banhar cuidadosamente depois do ato. Dias fedendo a secreção de velho. Ai como viera até ali? Se não fosse pela mãe. Mas sem a mãe ela o quê?



         Foi quando revelou-se que havia mais vida por trás da vida. De repente Rute não tinha mais medo e conseguiu um amantezinho. Viu-o pulando o muro. Era da rua mesmo. Quem era? Era um menino da rua mesmo. Esperou-o tanto. Um dia que a mãe não estava. Cláudio que saía de manhã e voltava de noite. E a mãe que não estava. Tão sozinha que infeliz.

         __Você que quer aqui dentro?

         __ Estão maduras, eu pensei que umas eu podia.

         Ah! Eram as pitangas. Deixou que enchesse os bolsos. Pelo muro não precisa voltar, pode passar por dentro de casa.

         Era um menino que tinha quase a idade que ela. Quantos mesmo? Rutinha com vinte e quantos? Pra ela tinha sido reservado o caldo ruim da vida. Azedinho vermelho na linguinha do menino. Pensou. Não se conteve. Correu ao quarto, pôs-se nua no meio do mundo.

         Não me interrompam porque faço viagem para Saturno. Abriu-se. Lá dentro sua fruta macia e suberosa. Quem ela? Nunca que resistisse ao mel fluente que se exala da sua colmeia íntima e carnal. Logo os seios eram duas maçãs duras e quentes. Espalmou as mãos sobre eles. Colheu-os com seus muitos dedos finos. Encontrou o bico do mamilo com a unha, ali zona de prazer indolor. Se não fosse proibido ela que se alimentaria de seu próprio leite. Veio um frio angustioso que não fazia parte da tarde e ela cruzou as próprias fronteiras libertando-se toda como uma flor aberta dentro do sol. Quando respirou estava espessa e o espasmo a elevou meio palmo acima dos lençóis. Grande foi o gemido que reboou sobre as águas e ela voltou feliz e ofegante a sua primitiva natureza de pomo e lua.



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