Um parricídio
Francisco,
bêbado outra vez. Chega em casa, martiriza a mulher. Bebe todos os dias senão
como aguentar tudo? Vai bebendo o que encontra no caminho de casa. Dois tragos
depois está completamente bêbado, mas nem assim pára de beber e quando chega na
frente da casa já bebeu quase uma garrafa.
Entra
em casa batendo a porta, Mariana estremece esposa e mártir, o filho é o André,
não aguenta o pai, ficar em casa ele não pode. Vai para o monturo, entra no
mato, de lá escuta Francisco, aos gritos de sua cadela e sua puta. Como pode
ela aguentar isso? Um dia ele.
Mariana
não discute, serve a janta, Francisco nem come, comida de porco essa, joga a
comida no terreiro com prato e tudo. Mariana só chora. Meia hora depois
Francisco afirma. Querem matá-lo de fome, Mariana só faz janta pro cachorro do
filho dela. E o cachorro cadê? Ele o dono da casa e não come e o outro vive de
rei. Mariana serve-o outra vez. Mais arroz, mais feijão e mais torresmo. Dessa vez
Francisco come. Joga o prato nos pés da mulher.
__Pra
tu lamber puta mundana.
Depois
de jantar Francisco dorme. Tranquila a casa. André volta do mato. Entra pela
sala. A mãe no quintal.
__
Por que você deixa mãe?
__ É
o teu pai.
__ É
um bêbado, é um porco.
__
Teu pai.
__
Um dia eu.
__
Não, que eu não quero.
__
...
__
Deixa que eu meu filho.
__ Você
até parece que gosta.
__ É
teu pai meu filho, é meu marido.
André
entra no quarto. Toda a noite acordado ouvindo o porco preso no sono alcóolico.
Podia afogar-se no próprio vômito. Perder os sentidos no sono e morrer. Podia até
ser abalroado por caminhão na estrada. A vida bem melhor assim.
No
outro dia Francisco nem se lembra de nada. O André é o seu filho, mas ele que é
o pai é odiado pelo André. A mulher insinua que ele fez escândalo. Escândalo
nenhum, ela inventa. Quer que ele do trabalho pra casa. Parou pra tomar um
trago no Cristóvão. Bebeu porque também sem a cachaça. Mariana se entrega. Não
insiste nada. André não pode acreditar na amnésia alcóolica do pai. Fingindo
esse porco. Um dia eu.
Durante
todo o dia a casa em paz. Sem beber Francisco é bom. Bom mesmo para os de fora.
Dar cacho de banana, cestos de laranja, fatias de abacaxi. Ovos mesmos não
chegam. Mariana não se opõe, chega a gozar certa paz. André que espuma de
raiva. É um porco. Cospe no chão.
Outra
noite no quarto André ouviu. Era o amor entre o pai e a mãe. Então ela quem
permite. Como ainda permite depois de tudo? Ainda nessa casa por causa dela. Mas
um dia ele. Tinha como sumir no mundo. Poderia não poderia? Ela que se submetesse
ao porco ele não. E André espumava mais de raiva. O resto da noite não dormiu,
impossível dormir depois daquilo.
Quis
beber, e um dia no Cristóvão bebeu meia garrafa inteira. Foi o que bastou. A mãe
o viu na estrada. Não era o pai era o filho. Esperou-o no terreiro da casa.
__
Meu filho por que você fez isso?
__
Não é da sua conta, eu quis eu bebi.
__
Você como seu pai André.
__
Não é o meu pai, o filho segue o seu.
__
Não acreditava que você pudesse.
__
Agora acredite velha.
__ E
nem me respeita meu filho.
__
Você merece?
__
Sua mãe afinal.
__
Lembrou disso hoje?
Mariana
agora mãe e mártir. O André bebia. Falar ao Cristóvão para não vender cachaça
ao André. Já chegava Francisco. Como poder com aquilo? O André depois dormiu. Quando
acordou era de tarde e o sol já tinha se posto. Mesma amnésia alcóolica do pai.
A cabeça pesava no corpo. Voltou a dormir para esquecer a dor.
De
noite foi a vez de Francisco e Mariana chorou de desgosto. A vida um inferno.
Francisco repetiu a cena contínua. Mariana tinha feito cozido. Comida pra cachorro
informou-lhe Francisco. A panela ele jogou no meio do terreiro. A mulher fizesse
janta pra ele. Mariana chorou e foi por a comida no fogo. Quando ficou pronta
Francisco comeu, mas dessa vez ele não dormiu.
Como
Francisco não dormiu e nem se acalmou depois de comer André acordou lá no
quarto. Ouviu em silêncio o alarido do pai. Fechou os olhos, mas não tapou os
ouvidos e continuou ouvindo o porco. Impossível agora sair pra fora da casa.
__
Onde o cachorro do teu filho Mariana?
__
Francisco, já bem tarde da noite.
__
Não vou dormir, hoje vou comer teu rabo.
Lá
dentro do quarto André levantou da cama, ficou de pé no meio do escuro olhando
dentro da treva. Sem se decidir a nada afastou a cortina que tapava a entrada
da porta e caminhou pelo corredor da casa até a cozinha. Francisco estava de costas
sentado no batente da porta do quintal. Marina estava de cócoras ao pé do marido,
não viu quando o filho chegou. Então era isso, André empunhou o facão e golpeou
Francisco uma vez e outra vez. E o sangue do pai escorreu quente e inútil pelo
chão da cozinha, André golpeou-o terceira vez e terminou de matá-lo.
__ Mas
era seu pai meu filho.
__
Não podia não terminar com isso minha mãe.
__
Agora que você matou ele.
__
Matei porque eu sabia que um dia.
Mariana
pôs-se de pé no meio da cozinha, olhou para o céu através da porta aberta, era
madrugada e o vento soprava levando a lua e as estrelas. Ouviu o primeiro galo
cantar. Precisavam dormir agora. Então decidiu:
__
Me ajude a levar seu pai pro poço André.
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