Os sofrimentos de uma jovem esposa
Casou porque amava o André, não tinha outro interesse. Mesmo porque era desejada, perseguida. No fundo do quintal quase com o Joãozinho. Conteve-se, quando a avó soubesse o que seria dela? A avó de outro tempo nunca que entenderia que ela já com o Joãozinho. Também não era dessas desfrutáveis. Reconhecia que homem só quer chupar a pitanguinha, depois cospe caroço e adeusinho pureza. Por isso, mais que quisesse com o Joãozinho, deixou-o esvaindo-se na sarça ardente.
Entrou correndo na cozinha, a avó voltou-se:
__Viu o Labatut?
Depois o Joãozinho nunca mais. Fechou-lhe a cara. Mas ela sem rancor nenhum do atrevidinho. Moça que se guarde. O exemplo de Maria, a judia. Nem com o José Carpinteiro ela fez. Então apareceu o André.
Como foi que chegou o André?
__ Entre, meu filho. Mamãe boazinha?
__ ...
__ Pena o que aconteceu com o compadre.
__ ...
__ Foi coração?
__ ...
__ Tinha falado pra Neném. Mas sente-se, café?
Quem era este vovó? Velha maluca, nem pra responder direito. Perguntei quem era o moço, vem com quatro pedras. Vidro moído no teu caldinho ó velha bruaca! Depois viu ele num encontro fortuito.
__ Não é o André?
__ Sou.
__ O afilhado da avó?
__ Você, então?
__ Pois é, cresci.
Entrou na minha vida o André. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Caso com o André e mudo de vida. Noivinha até que a avó junte os pés. Paciência, Deus não é o diabo que vai fazendo com tanta pressa que faz mal feito. Agora que tinha o André, ele esperaria por ela. Mulher sabe fazer o homem esperar. Me espera Andrezinho, a bruaca morre aí fico livre. Só eu pela velhota gorda, reumática e hidrópica.
Lá no quarto, escuta. Ela sabe de tudo. No tempo dela foi puta, mas depois foi catequista e finalmente acólita. Guarda a chavinha dourada do sacrário no bolso e vai pro céu, a bruxa. Mãos do Andrezinho perigosamente nos seios, no sexo. Ai dela! Toda molhadinha! Ser permissiva, mas não oferecida. Deixar o André tontinho, refém da bucetinha. Pra me comer só casando, já viu.
Antes de casar não case Rosinha. Vieram dizer. Por que não se casava então? O André é o homem. Meu escolhido, muitas com inveja. Até as velhuscas. A avó morta para sempre e ela nunca que sozinha. Encontrou o homem e gostou do André. Não lhe tiram esse gosto.
__ Problema do André é a mãe.
__ Problema do André é a mãe.
__ Dona Neném?
__ A bruxa.
__ Nenhuma velhinha me vence. Eu peitinhos duros, perninha grossa, varizes nenhuma. E mulatinha, pra quê bronze? Tenho o Andrezinho na palma.
Primeiros tempos de casada no paraíso. A Rosinha louquinha de amor. Pipira livre voando no céu de abril. E o André? Esse vencido, refém, submetido, caído aos pés da. Melhor que ele jamais outro. Ordenado nas mãos da rosinha, ela quem sabe o melhor uso. Pouca urgência eles tinham. Instalados na casa da sogra, a mãe do André. Tratava-a como uma filha. Ela que fosse acreditar na boca maldita. Dona Neném uma santa.
No domingo passeio e sorvete feliz. As ruas do centro sem movimento. A cidade lânguida cansava-se e estirava-se na tarde morna. Ela se aconchegava no calor do André. Os dois sentadinhos no banco da praça, a catedral brutal e rígida. De repente um passarinho. De repente o vento nas folhas das árvores da praça. De repente um esguicho de água na fonte do coreto. Era uma cidade que ainda tinha um coreto. E ainda de repente o relógio tin-dleeeeeennnnnn! Na torre da matriz. A Rosinha bem preguiçosinha queimando sob o vestidinho carmim.
Em casa a Rosinha bem nuinha na cama. As coxas afastadas, o André vinha e a tomava. Siliciosa espada de dois gumes transpassava-lhe o ventre. Aço frio e compacto, a enregelava por dentro, carpia-se com uma dorzinha rútila e cruel. E de repente! Ah! Espasmo! Com ataque de cadelinha trêmula nos braços do André.
Ela assim muito feliz. Nunca que outra vida. Esperou e teve o fruto proibido. Em verdade Deus era um velho que não sabia escrever o curso da vida humana. Escrevia torto porque não usava bela caligrafia, depois não lia o que escrevia e nem se arrependia do texto. Mas ela estava escrevendo a própria vida. Agora que soubera do fruto, não haveria espada de arcanjo trançada que a impedisse de saquear o jardim do paraíso.
Mas Dona Neném a serpente no paraíso. Te ofereci um fruto, comeste-o todo. Agora recebo-o de volta. O penhor era o André. Foste com muita sede ao vinho, o odre secou. Não recebo migalhas. Na verdade antes de teu homem o André sempre meu filho. Sem vergonha. Ouço teu miado no quarto. Cadela no gozo. O André magrinho, fraquinho o meu filho. Tu uma possessa. Eu nunca. Todo dia no banho, na cama com o André. Me insulta, não me respeita. Não respeita teu marido. Neta daquela de muitos homens. Podia ser outra?
__ Meu filho abre o olho, essa tua mulher.
__ A Rosinha, minha mãe?
__ Essa que está lá dentro.
__ E então?
__ Em segredinhos com a Lili.
__ O que me diz mãezinha?
__ Juro pela Luz Celeste.
__...
__ A Lili você sabe meu filho. Até com o velhote manco.
__ Amigas?
__ Em segredinhos lá no fundo do quintal, quando apareci se calaram. Muitos risinhos. A Lili loura e puta e tua mulher com esta amizade.
Mentia Dona Neném. Quer o meu mau ó André! Tua mãe me odeia. Me vigia, nem olho pra rua. Aqui no quarto sempre. Uma vez só. Faz tempo André. Tinha goiaba e eu quis uma. Você se lembra? Eu pensei que estava. Que já teria nosso filho. Vi as goiabas e fui. A Lili lá. Muro baixo não é? Vou virar a cara pra moça? Vida dela não me importa. Cada um faz como quer quando o que tem é seu. Falou de tudo. Menos de homem, ó André. Ensinei pra ela um método pra anjo. Foi isso que sua mãe ouviu.
Agora a pipira na gaiola. Ficará louca. O quarto é privação. Nem na sala mais pode. Dona Neném com a chave pra sempre. Morrer esta não morre. Dura como vaca velha. Na mesa nem olha mais o André. Separação de quartos. A solidão da mulher casada. Noites se consumindo no vapor do seu inferno. A mãe do André tomou-lhe o marido. Choro, ranger de dentes. Unhas na cara. Já muito magrinha. A infelicidade dela foi vir morar naquela casa. Escutasse o que diziam da sogra. Uma bruxa. Matou o marido na unha. Um dia a bruaca estourou o coração do velho.
Então quer o filho pra ela? Admira o André não ver quem a mãe. Frouxo, veado, fresco. Eu ardendo na febre do amor e o xibungo na cama da mãezinha. Sim que o André já se deitava com a mãe na mesma cama. Ela que nunca imaginasse. Se espalhasse, um escândalo!
Vou e digo a Lili:
__ Sabe o André?
__ Teu marido?
__ Era.
__...!
__ A mãe dele me tomou.
__ Não diga!
__ Digo. E pode dizer por aí que eu disse.
__ Pois confirme.
__ Me deixou pela velha. Me maltrata. Até me bate. Me deixa sem comer. Eu quase louca já. Naquela casa há um pecado em cada buraco, em cada prego, em cada greta da parede.