quarta-feira, 26 de agosto de 2020

POESIA- PARA CRUZ E SOUSA

 


 


 PARA CRUZ E SOUSA

Quando morreste em Minas,

Tinha que ser lá em Minas, pretérito barroco,

Era março e era no dia do outono,

Mas as folhas não caíam nem no vale nem no sertão da província,

E teu corpo muito morto,

Mas muito mais morto do que a própria matéria tuberosa,

Veio vindo para a capital da república entre cavalos e excrementos de

                                                                                            [cavalo.

para ser posto na cova pobre que te coube da subscrição dos amigos.

Morria teu corpo, apodrecia tua carne,

Triste argila.

Ficava tua música entre os homens,

Ficava tua voz,

Tua antífona,

reboando teu grito

trovão nos ares.

Ficava entre nós tua revolta, Negro,

Teu exemplo de livrepássaro,

do preto ingente

litania da nossa tão longa noite,

pressago da raça –

noite geral, inexorável.

Canto de preto,

Malungo,

Desterro.

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