domingo, 23 de agosto de 2020

POESIA- CANÇÃO DE NANÃ

 

 

CANÇÃO DE NANÃ

 Sou a terra meretriz –

Me rasgam, me semeiam,

Me colhem frutos sãos,

Me largam nua, me despenteiam,

Me calcam com a planta dos pés.

 

(Cedo o barro e cedo à linfa.)

 

Sou a mulher, sou nutriz –

Sou a mãe incestuosa.

Engendro filhos, engendro netos,

Com a carne da minha carne coabito,

E alimento-os com os meus peitos.

 

(Sou a deusa indecorosa.)

 

Nanã Buruquê na lama do mangue,

Nanã Buruku na lama do rio,

Anamburucu no grelo da vida,

Traz jasmim, traz bogari,

Salubá! Salubá!

Traz teus ossos pra descansar.

 

 

 

Nenhum comentário: