domingo, 19 de julho de 2020

CRÔNICA - A MAIOR INIMIGA DA SOGRA

A maior inimiga da sogra

         __ Então nos últimos dias nas mãos da Neném?

         __ Castigo de Deus.

         __ Fazendo aqui, aqui paga bem pagadinho.

         __ Justiça de Deus.

         __ Justiça de Deus.

         __ A Neném bem vingada.

         __ Não foi a mártir?

         __ Foi mesmo.

         __ O pior casamento que já houve.

         __ E o José?

         __ Este um títere da mãe.

         __ Bem que ele gostava.

         __ Pudera. Gozava o privilégio.

         __ E a Neném?

         __ A pobre sofria. Supliciada na cruz do casamento.

         __ E agora o seu dia.

         __ Deus quem sabe o que faz.

         __ Cozinha o pão de cada um.

         __ Quando morre a...?

         __ Comida pelo diabetes. Morre consumida.

         __ Uma perna, um braço...?

         __ Foi.

         __ O médico quem serrou.

         __ Amputação completa.

         __ E agora ela que dependa da Neném.

         __ Até para cagar.

         __....!

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         O casamento? Este o inferno. O José que era da mãe. O filhinho único. Não que ela não soubesse. Muito avisadinha. A mãe dela quem alertou:

         __ Nena toma cuidado.

         __...

         __ O José filho da Maria.

         __ Não pra ela. Filho pro mundo.

         __ Este aí não minha filha.

         Que não acreditou nisto foi só porque o José:

         __ Mando na minha vida, Nena. Mãe que não me venha dar ordem.

         __ Você jura José?

         __ Pra que jurar se eu dono da minha vida.

         Dono nada. Maria era Deus. O José um pinto no ovo. Bem que muito aviso. Muita recomendação. Mas como ela? Sabia que o José era cúmplice da mãe, mas não podia crer que mãe e filho unidos para martirizá-la.

         Então era isto o casamento? Não, este era o casamento com o José, filho da Maria. Mãe possessa. Agora pra sempre enredada no martirológio.  Sofrer porque não ouviu pai, não ouviu mãe.

         __ Nunca que você volte pra casa minha filha.

         __ Meu pai?

         __ Avisada. Mãe e pai são quem sabe. Já vividos e bem instruídos – o pai falou.

         __ Nunquinha que volto meu pai. O José meu homem – ela disse.

          Depois se Deus a matasse... Arrependida. Honrar pai e mãe. Um raio caia e ela fulminada.

         De vingança a sogra matava-a na unha. O José? O José quem gozava. Fazia que nada não via. Ela infeliz. Se morresse uma grande beatitude. A sogra contratava empregada. Mentira que empregada coisa nenhuma. Mulherzinha para o José. Um dia ela viu. José nu na rede da quenga.


         __ Você deixa minha sogra?

         __ José um homem.

         __ Muito casado. A senhora já sabe.

         __ Não por minha vontade.

         __ Eu, esposa do seu filho.

         __ Por mim igual uma cachorra.

         __ Bote a meretriz pra fora.

         __ Não demito. Eu quem pago o ordenado.

         __ A senhora não me respeita.

         __ Agora que descobriu?

         Obrigada a conviver com a prostituta do José. Catraia safada. Com homem casado em baixo das vistas da mulher dele? De quem a culpa? Da sogra, esta notável Belzebu.

         Mas Deus que vela pelos crucificados e um dia ela também com o relho, a lança, os cravos e a coroa de espinhos a disposição para sua vingança.

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         __ Esperou muito?

         __ Até o dia do juízo.

         __ E agora Nena?

         __ Agora minha hora e vez.

         __ Mata ela?

         __ Não mato. Criminosa nunca.

         __ ...

         __ Morre nas minhas mãos.

         __ Arsênico no caldinho de feijão?

         __ Preciso disso nunca. O trabalho é Deus.

         __ O Justo Juiz!

         __ Este minha irmã.

         Definhamento da sogra: duas amputações – um braço e uma perna. O diabetes, a erisipela. Braço direito. Ceguinha agora. Papinha das mãos da Neném. Deus pôs os restos da velha ao seu dispor. Agora que ela gozaria um dia na vida.

         E José? O José um filho ingrato. Tudo por ele e quando uma mãe doente em que mãos vêm se curar? Isso que ela nunca adivinhasse. A Neném esta cabeça de vento. Nunca que o José escolhesse pior mulher. Filho vai da criação. Mas ela criara o José para homem e o José foi um homem, mas depois nisto que deu. Caído nos encantos da Uiara. Mãe nunca tina paz quando se paria filho. Fosse filha era do mundo, mas com filho é ela quem deve viver pra ele. O ingrato por aí e ela nas mãos da vaca.

         __ Meu filho, é a Neném, ela que me quer morta.

         __ Você melhorzinha mãe.

         __ Nunca que nunca. Por que não cuida de mim?

         __ A Nena ótimo trabalho.

         __ Sempre um filho é quem sabe de que mãe, José?

         __ Agora não posso você sabe que estou ocupado.

         __ Você nega socorro a uma mãe, meu filho?

         __...

         Dependente da Neném até pra ver no escuro, ela tem medo. Um dia deixava-a com fome e se morresse acabou. Morreu de velha mesmo, estava doente e morreu. Ninguém saberia quem foi que a matou. Até dose de veneno podia. Quem faria exame? Sempre doente, agora arrebentou. Enterrem e acabe com isso.

         __ Neném eu te chamo.

         __ Presente madrinha.

         __ Neném eu te perdoo.

         __?

         __ Pelo José, por tudo que você me fez passar cadela.


        

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