Selma
─ HOJE NÃO DÁ, não quero mais caçar. Perdeu o
sentido, não estou com vontade mesmo de fazer isso.
─
E você está com vontade de quê?
─
Não sei. Menos pegar lagartixa, isso eu sei que não quero.
─
Então vamos fazer outra coisa.
─
Também não.
─
Eu ia propor pescar.
─
Viu? Também não quero isso.
Os dois ficaram calados olhando as
galinhas que corriam atrás das outras galinhas e era como se de repente eles
tivessem brincado e acabado. O sol ardia na pele escura de Carlos e ele afastou
as pernas para a sombra da platibanda. André permanecia imóvel olhando as
últimas galinhas que passavam atrás das outras. Não aguentaria aquela coisa toda,
mas antes de explodir André falou:
─
Vamos lá pra Selma hoje não tem ninguém em casa.
─
...
─
Bobo você é.
─
...
─
Vamos logo depois agente pesca.
─
O sol vai ficar quente.
─
Melhor assim, os peixes vêm do fundo beber água na margem.
─
Nunca ouvi dizer isso.
─
Eu estou dizendo.
Carlos achou que André mentia, mas não
tinha outro pensamento onde se amparar e ficou calado e como ele tinha ficado
calado André compreendeu que tinha vencido e os dois se levantaram, limparam os
joelhos e desceram o morro.
A casa de Selma ficava em baixo, antes
do rio e eles poderiam aproveitar e levar as varas de pescar com eles, mas nem
se lembraram disso e desceram sem pensar mais nos peixes que pescariam.
Desceram e atravessaram a estrada
completamente parada sob o sol. Onde os bois que passavam? Há esta hora todos
no pasto, outra vez só quando chegasse a hora de beber. Boi só conduzido por
gente, e é por isso que segue o curso.
Na frente da casa pararam. A porta
fechada. Bater não era preciso. Dar a volta. Fizeram isso. Carlos viu uma lagartixa
bem grande correr na parede. Subiu até a cumeeira. Não ter trazido o laço.
André abriu a portinhola. Estavam no
quintal. Porta da cozinha aberta. Só a parte de cima. Tinha gente na casa. Lá
em baixo o riacho cheio de peixes e a água mansa parada, parada no meio da
manhã.
Selma lá dentro. Veio ver quem era. Mas
como não sabia que eram eles? Empurraram a porta.
Dentro da casa o fogo quase apagado.
Selma não estava sozinha. Quer dizer não completamente sozinha. Sabiam disso.
Carlos ficou atrás, mas seguiu André até a sala. Era a irmãzinha dela que
estava com ela na casa. Os dois sabiam tudo isso. Veio então à decisão.
─
Quer fazer aquela coisa? Ninguém aqui, só minha irmãzinha.
Os dois confirmaram o que queriam
apesar daquela verdadeira empata.
Sacrificar um pelo outro. Carlos aceitou
a condição. Pelo amigo daria um braço. Haveria retribuição? André empenhado.
Não fosse Carlos cobrar antes que ele pudesse. Os dois combinados. Depois seria
a vez de Carlos e André se imporia a mesma condição.
Ficou com a irmãzinha na sala. Os dois
no quarto sobre a cama com lençol de retalhos. André seguiu-a.
Na outra cama, a dos pais. Depois ela
arrumava tudo. Cuidado a irmãzinha não vir lá da sala. Os quartos sem porta.
Perigo não há. Brincando nem vai saber de nada.
André ficou nu. O quarto na penumbra. Ele
no meio do escuro. Selma pôs tolha na beirada da cama. Que a mãe não soubesse
de nada. Dona Neném não volta. Que o pai nem pensar. Só meio dia em casa, ainda
longe disso. Até lá tudo acabado.
─
Vamos logo. Tire a cueca.
─
Não vim de cueca.
─...
─
Não achei nenhuma.
─
!
─
Você quer que eu vá até aí?
─
Em pé não dar, mais alta que você.
─
Onze anos, eu homem.
─
Melhor começar. O almoço ainda.
─
Só quis informar.
─
Não me importo.
André
sentou na borda da cama. A palha do colchão chiando sob seu peso. O passo
seguinte ele não sabia. Então ela pôs o seio pra fora da blusa aí ele adivinhou
o resto.
Sugou-o.
Primeiro como um menino, só depois com avidez. Aprendeu de repente. Quando repetiu
a ação já sabia o que fazer com os dois seios. Sem mordê-los. Só com a língua. Finíssima
ponta da língua de uma salamandra.
Não cheiraria
mais a menino. Teria sangue de homem. O leite não verteu e ele compreendeu que
aqueles peitos eram diferentes dos outros peitos onde pusera a boca e as mãos
um dia.
Prendeu-se
neles, mas ela o fez parar. Aquietou-se indeciso. Teria acabado tudo? Preparou-se.
A roupa no canto quarto onde ele tinha se despido.
Mas não
tinha convicção de que já havia terminado. Parecia-lhe que havia um resto de
coisa. Como Selma lançou o corpo para trás obrigou-o a subir na cama para
ampará-la. Não, não era necessário. Ela susteve o corpo com as próprias mãos
apoiadas no colchão. Olhava para o teto onde as telhas coavam a luz do sol que
iluminava toda a manhã. O menino parado indeciso. Tomou-o pela mão, conduziu-o.
Baixou-lhe os dedos até o sexo. Estremeceu quando ele a tocou. André entendeu
tudo e prosseguiu sozinho.
Abraçaram-se
sobre a colcha de retalhos costurada pelas mãos da mãe. Ela dispôs-se a ele.
André ainda não sabia servir-se de uma mulher, mas ela reconhecia-lhe o esforço
e onde ele não alcançava chegar ela o ajudava solícita.
Também
era importante não ficar imóvel quando as mãos poderiam fazer algum trabalho e
colaborar na obtenção da felicidade. Reconhecia o esforço de André e como ele
era um menino não poderia deixá-lo sozinho.
Os meninos
vinham e ela não os recusava. Eles suplicavam dela o amor. E ela gostava dessas
súplicas nadando no fundo dos olhos dos meninos. Não se impedia de servi-los.
Detestava
o amor dos homens. O cheiro dos homens queimava-a por dentro e o amor deles a
esvaziava. Queria que os meninos sempre a tivessem amado. Mas quando o tio veio
os meninos ainda não sabiam amar e não teve nenhuma chance contra o bruto. Agora
só com os meninos.
O tio
morto para sempre. Deus criou o cavalo e o cavalo pisou em cima do tio. Nenhum remorso
porque Deus a protegera como ela tinha pedido a Ele.
Mas André
tinha acabado? Pobrezinho, apenas resvalando nas coxas. Ajudou-o ainda dessa
vez. Tinham que acabar logo. O outro lá fora. A irmãzinha se lembraria dela e a
procuraria pela casa.
─ Acabe.
─ Acho que já acabei.
─ ...
─ Acha que fizemos bebês? Ele quis saber por que
sentia que uma corrente de água fria e morna havia percorrido sua espinha e
ossos.
─ Acho que não. Posso saber se você acabou?
─ Pode.
Ela
olhou-o de pé no meio do quarto através dos dedos que tapavam seus olhos. Era um
menino escuro que brilhava no meio da luz que entrava frouxamente pelas frestas
do telhado. Acompanhou-o enquanto ele se vestia.
Então
viu-o sair com a camisa nas mãos. Aí estirou-se languidamente na cama, abriu as
pernas para receber um pouco daquela luz enquanto esperava Carlos.
Carlos Souza
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