1
Rio-me sozinho, aflito,
Contento-me com tão pouco
Que logo virá o vento implume
E me desfolhará nos mapas.
Não trago nas mãos,
Nem impresso na pele
nenhum curso possível,
Nenhuma rota navegável.
Mesmo que eu siga assim:
Boca imóvel, gesto apagado,
Silêncio audível, peito inerte,
Não encontro rastros, sinais
de lume nas águas paradas.
2
Quando nem o labirinto está visível,
Quando nem as flores que cultivamos
secam fechadas nos livros,
É que somos sombras, raízes pútridas.
Quando voar deixou de ser nossa inocência,
Quando sucumbimos inscritos no sono,
É que quebramos espelhos planos,
Partimos as asas nas voltas do caminho.
Assim pouco restou deste monumento votivo,
Eu, arquitetura simplíssima, desmonte,
Restos de colunas e mastabas antigas,
Minha estátua, prenhez de limo e lodo,
Gretam-se os olhos e as memórias esquálidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário